28 maio, 2012


É PRECISO DIZER “EU TE AMO”


Minha nona me tomava pela mão e me conduzia ao fundo da casa, à sua pequena estufa, um paraíso perdido onde sussurrava em italiano, rescendendo ao aroma verde e vivo de folhas, plantas e flores.  Meu pai, me trazia livros de estórias: A galinha Carijó, Os três Porquinhos ... depois livros sobre a arte da construção de Castelos, Navios... Sonhos de uma Noite de Verão... Minha mãe tecia longas tranças nos meus cabelos. Em vésperas de festas encomendava um vestido na costureira na cidade, feito cópia aos dela.

Na minha infância o léxico do amor, jamais era expressado em palavras. O amor era demonstrado através de signos sutis a serem desvendados em meio a flores, livros, fazendas. Todas as formas inestimáveis de pequenos atos e cuidados, mas todos dúbios, porque abertos a interpretação.

Já menina, eu ardia em ganas de ouvir o som de um “eu te amo”. E de dizê-lo.  Tomei a resolução de que, em minha vida, jamais esperaria que quem eu amasse precisasse tornar-se perito decifrador de códigos. Eu diria as palavras, claramente, custasse o seu peso e preço.

Minhã irmã, ainda bebê, foi a primeira a quem ousei dizer eu te amo. Ao princípio, ao pé de seu berço, tocando em seus dedos fofinhos. Constantemente e suavemente. Um mantra para que ela, ainda sem a fala, absorvesse a energia do que estava ouvindo. Entre nós então, o “eu te amo”, jamais foi negligenciado, entretanto, tampouco banalizado. 

Ao sofrer uma queda e perder parte do dente da frente, bem no auge da adolescência , eu a disse “eu te amo”. Mais tarde, ao ter seu coração partido, chorando à janela do quarto numa tarde chuvosa, da rua gritei “eu te amo”. Em sua formatura, em seu mestrado, em suas vitórias tão valorosas e algumas quedas tão doídas, invariavelmente: “ eu te amo”, “eu te amo”, “eu te amo”.
Minha primeira professora de matemática, que além de aritmética, ensinou-me a lição da amizade “amizade é: saber amar, saber compreender, saber compadecer-se, saber dizer sim, saber dizer não...”. Foi a primeira pessoa que não temeu a força das palavras. Em minha despedida na escola, já de partida para São Paulo, me tomou em seus braços e me disse “Eu te amo”. “ Para onde você for, lembre-se”.

 Dona Célia, minha mulher maravilha, heroína encantada, não me esqueço.

E qual a ternura do momento, quando minha nona, do alto de seus 90 anos, sentada ao meu lado em seu sofá desgastado, nossas mãos pequenas entrelaçadas, na última vez que nos veríamos. Eu a fitei nos olhos e disse “Dio como ti amo”. Seus olhos, duas surpresas luas azuis me iluminaram e retribuíram.

Nem sempre o amor ousa ser dito, repentinamente, ao sabor do momento. Há ocasiões que exigimos uma eloquência tal como a do silêncio puro.  

No funeral da mãe de uma amiga, eu a vi jogando um punhado de terra e flores sobre o caixão. As mesmas mãos longas e delicadas que escrevem poemas, fazem doces, embalam sua filha... Eu a olhei e não pude aproximar-me e dizer em alto e bom som “eu te amo”. Mas ela ouviu-me diretamente em seu coração, eu sei.

E a noite ao olhar para o meu amor, seus olhos por detrás dos óculos, curiosos, estudiosos, sempre um livro às mãos. Sou tomada por um sentimento de amor tão profundo e inescrutável que queria poder expressar-me como a Julieta de Shakespeare:

“Meu sentimento é ilimitado como é o mar, e tão profundo como este é o meu amor. Quanto mais te dou, mais tenho, pois ambos são infinitos.”

Ou como Neruda à sua mulher Matilde:

“... e morrerei de amor porque te quero,
porque te quero, amor, a sangue e fogo ...”

Mas não posso. E então “eu te amo” são as únicas palavras que me vem à boca, à força do momento e à altura dos meus sentimentos.

O dia dos namorados se aproxima e não há data mais perfeita para que você exprima o que sente. O valor da presença, da celebração, do presente... são rituais que não podem ser excluídos, nem mesmo substituídos.  Ritos são tão importantes. São como “marcos”, bandeiras fincadas, em nosso percurso de vida, em nossa história de amor. Não deixe, porém, que o “eu te amo” seja subtendido através de suas ações.

É preciso dizer “Eu Te Amo”. Para onde você for, lembre-se.

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