Quase todo mundo que conheço tem sua história pautada pelas tais grandes ocasiões: a festa de 15 anos, o primeiro carro, a formatura, o dia do casamento, o nascimento do primeiro filho ... os antes e depois e muito pouco do agora.
Sempre fui avessa a grandes ocasiões. Transgredi a ordem do calendário. Sabotei todo cronograma previsto.
Ouço falarem de etapas da vida como se o tempo passado pudesse ser arquivado em fichários datados, em gavetas na nossa memória. Meu tempo em sua passagem se converte em um emaranhado de sensações, memórias, saudades, vivências ... e a grande maioria de tudo isso já vivido se torna cronologicamente indefinível, nebulosamente indecifrável. Confundo os anos, misturo as estações. Ás vezes sinto o que vivi como o que gostaria de ter vivido ou então antecipo o que se há para viver.
Mas alguns momentos persistem precisos. Bandeiras fincadas em território inóspito. De certa forma esses são os momentos que demarcam a passagem do meu tempo. But not certainly.

"Que bobagem falar que é nas grandes ocasiões que se conhece os amigos! Nas grandes ocasiões é que não faltam amigos. Principalmente neste Brasil de coração mole e escorrido. E a compaixão, a piedade, a pena, se confundem com amizade. Por isso tenho horror das grandes ocasiões. Prefiro as quartas-feiras."

(Mário de Andrade)