26 fevereiro, 2008






A primeira vez que morri foi de amor. Morte anunciada. A soube certa desde o dia que me descobri amando. Foi numa noite chuvosa, pés molhados, olhos secos, coração disparado atravessando uma rua, a caminho de um desencontro.
Morte em Veneza. Em Recife, numa estação. Em New Jersey, numa esquina. Em Lisboa morre-se lindamente. Lá eu também já morri.
Não se morre só de amores. Ainda que de amor se morra mais vezes. Morre-se também de alegrias, de partos, de perdas... ou de descobertas, de adeuses, de esperanças...

Morre-se tantas vezes tem-se a audácia de renascer.
A cada morte uma nova vida.





"A arte de perder não é um mistério
Tantas coisas parecem feitas com o propósito
da perda, que o perdê-las não é nada sério.
Perca algo a cada dia. Aceite o susto
das chaves perdidas, a hora desperdiçada.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Depois perca mais coisas, perca com mais critério
lugares, e nomes, a viagem jamais feita.
Nada disso é muito sério.
Perdi o relógio de minha mãe. E olhe! A última,
ou a penúltima, de minhas três casas queridas se foi.
Na arte de perder não tem mistério.
Perdi duas cidades, tão deliciosas. E, pior,
alguns reinos que tive, dois rios, um continente.
Sinto falta deles, mas não foi nada sério.
--Até mesmo perder você (a voz, o riso que amo, etéreo),
mentir não posso. É evidente:
a arte de perder não chega a ser mistério,
apesar de parecer (Escreva!) muito sério."
(Uma Arte - Elizabeth Bishop)

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