15 julho, 2008


As janelas da minha casa são de madeira.
Madeira escura, espessa ao tato, curtida ao sol e ao sal.
Detrás das janelas se ouve o mar. O coração se descompassa por sabê-lo alí, ao abrir de uma ventana.
E quando se abrem as janelas o mar se escancara à frente, indubitável. Os olhos se espantam de tanto claro-azul.
O mar sopra seu hálito para dentro da casa, então o ar é perfume de pura maresia.
A minha casa, não fui eu quem a construí. Mas ela foi feita para mim, na medida dos meus anseios de azul, de silêncios, de raios de sol e de promessas de alegria.


“Senhor, ajudai-me a construir minha casa
Com janelas de aurora e árvores no quintal
Árvores que na primavera fiquem cobertas de flores
E ao crepúsculo fiquem cinzentas como a roupa dos pescadores.
O que desejo é apenas uma casa.
Em verdade,
Não é necessário que seja azul,
nem que tenha cortinas de rendas.
Em verdade, nem é necessário que tenha cortinas.

Quero apenas uma casa em uma rua sem nome.
Sem nome, porém honrada, Senhor.
Só não dispenso a árvore,
Porque é a mais bela coisa que nos destes
e a menos amarga.

Quero de minha janela sentir os ventos pelos caminhos,
e ver o sol
Dourando os cabelos negros e os olhos de minha amada.
Também a minha amada não dispenso, meu Senhor.
Em verdade ela é a parte mais importante deste poema.
Em verdade vos digo, e com bastante constrangimento,
Que sem ela a casa também eu não queria ...”
(Manoel de Barros)

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