22 novembro, 2010

O que me palpita em ti é a vida,
não o espírito
Quando te entregas não-te-entregando
esqueço as portas batidas nas caras dos funcionários humildes
a empáfia que outros vermes vão roer
os esquemas universitários em torno da literatura
os publicitários
os gendarmes os campos de concentração a
guerra bacteriológica
o napalm e o ônibus espacial
a loucura aliada ao gênio
e a inata falta de talento servida pela propaganda
Esqueço a minha própria circunstância
quando em teu braço meço
as nossas respirações sincopadas
Os nossos cabelos se unem
Do teu as ondas mansas
me fazem perguntar
o porquê da leveza,
dos tons ligeiramente diferentes
em certas pontas ou mechas
como castanhas mordidas pelo sol
Vais levantar agora? perguntas
Não vens deitar aqui? perguntas
E ninguém disse, em cinco mil anos de escrita,
poema melhor
Depois, tento conter no mesmo tempo
a tempestade e a explosão num sincronismo difícil
É um aprendizado de paciência milimetrada
este da igualação dos nossos paroxismos
que decorre entre o início
e o ápice da felicidade
Tudo vem da raiz dos teus pés em que flores do
campo fizeram morada
da escultura de teu efêmero e eterno corpo de
mármore
E por fim de dizeres que me adoras
e que eu não posso deixar de sabê-lo
Os anos passam sobre esta inconseqüência
certíssima e fatal
que nos coloca acima de todos os mortais
Isto me faz maior que eu.



Nenhum comentário: